O texto abaixo é de Martha Mendonça-Revista Época:
Acordei no sábado e li, no G1, de notícias, sobre a morte da atriz Cibele Dorsa. Pulou do sétimo andar do prédio onde morava, em São Paulo. Eu não sabia bem quem ela era. O nome era mais ou menos familiar, assim como o rosto. Bonita, sensual, com uma pinta a la Cindy Crawford em cima da boca.
Li sobre ela. Tinha 36 anos. Namorou o diretor de TV Marcos Paulo. Foi casada com o cavaleiro Álvaro Affonso de Miranda Neto, o Doda – hoje casado com a übermilionária Athina Onassis. Posou na Playboy em fevereiro de 2008. Trabalhava no momento numa peça de teatro infantil chamada O Castelo das Princesas. Fazia a Bela Adormecida. Estava noiva do empresário Gilberto Scarpa, sobrinho de Chiquinho Scarpa – e que há dois meses havia se jogado do mesmo apartamento. Ele tinha problemas com drogas.
Ela tinha dois filhos. Um menino de 13 e uma menina de 10. Igual a mim: um casal, mesmas idades.
No dia em que o noivo se matou, Cibele tuitou. “Meu noivo se suicidou essa noite, com ele morto eu me sinto morta. Prefiro ir com ele, minha força não faz mais sentido. Quero ir encontrá-lo.” Logo depois também deu uma entrevista à TV Fama, relatando todos os detalhes do suicídio do companheiro.
Antes de se matar Cibele também tuitou: ” “Lamento, eu não consegui suportar a morte nos meus braços, mas lutei, até onde eu pude.”
Tuitar antes de morrer me pareceu algo muito estranho. Mas pensei: é comum suicidas deixarem bilhetes. Em vez de lápis e papel, ela usou a internet – ampliando para o público o que deveria ser particular.
Mas à noite, olhando sites de notícias, me deparei com uma informação que realmente me chocou: Cibele Dorsa deixou uma carta para a revista Caras – símbolo maior da exposição das celebridades. No texto, pede perdão aos filhos, critica o ex-marido por ter levado seus filhos para o exterior e explica a solidão que sentia desde que perdeu o noivo.
Perdoem a mamãe, mas, a solidão é uma prisão terrível, é como se eu estivesse trancada dentro de mim mesma, estou cansada, sinto muito a falta de vcs mas, confesso que com o Gilberto aqui era mais fácil suportar, eu o amo muito, não sei nem como posso continuar… aqui em casa ficou frio, me sinto fora do meu corpo às vezes, e, isso me dá uma pausa na dor, só que depois volta em dose mais pesada. Faz algumas semanas que sinto uma leveza no corpo, como se eu estivesse já com um pouco de ausência do mundo terreno. (…) Amo vcs e estarei olhando vcs (…) meu sonho é encontrar o Gilberto em Aruanda e virar guia espiritual. Vivi, ainda vamos nos encontrar em outras vidas, nunca te abandonei, seu pai fez um plano milionário para tirá-la de mim, não tive saída. Fe, idem… vou estar torcendo por vc no futebol, na realização de seus sonhos… O inacabado, o interrompido tem que ter um fim. (…)
Doda, Que um dia Deus te perdoe pelo que vc fez e faz comigo, com a Athina e com as crianças, tente ser alguém melhor, tenho pena da Athina… essa nunca vai conhecer um homem de verdade, um amor. Eu sofro agora, no entanto, fui plenamente feliz ao lado do Gilberto, homem de verdade, que mostra a cara, que não mente, não dissimula, e, assim ele foi até o final. Ele pulou do prédio por vergonha de ter sido vencido pelas drogas… uma pena. Quem devia se matar não se mata…
Todos nós estamos (infelizmente) acostumados a ver capas de revistas de famosos em que artistas e pseudoartistas posam com rostos consternados depois do fim de um relacionamento. Também vemos fotos exclusivas de casamentos “íntimos” e até da lua-de-mel de celebridades. Mas dar uma exclusiva para ser noticiada depois da própria morte eu nunca tinha visto.
Que Cibele Dorsa descanse em paz. Agora ela será sempre a Bela Adormecida. Que os filhos dela consigam superar esse trauma. Mas mandar carta para uma revista de famosos, antes de se matar, na minha opinião diz muito sobre o mundo estranho em que estamos vivendo.
Nota da blogueira: Depois de ler alguns comentários, gostaria de deixar claro que meu objetivo não é discutir as razões que levaram a atriz ao suicídio – e muito menos as consequências “espirituais” desta decisão –, mas declarar minha estranheza diante de suas ações antes de morrer.
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